sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Confundidos com furões, ferrets começam a conquistar brasileiros

FLÁVIA GIANINI
da Folha de S.Paulo


Quando o advogado Marcelo Laudisio chegou em casa com um ferret, a família levou um susto. Afinal, todos estão acostumados com cães e gatos como animais de estimação. Confundido com um furão, o bichinho estranho e meio desengonçado logo conquistou a todos.

Oito anos depois, a família possui três ferrets. O amor é tanto que a dona da casa, a pediatra Sílvia Laudisio, tatuou a imagem do animal no ombro esquerdo. "Eles são apaixonantes."

Júnior, Babi, e Téo passam o dia em uma gaiola própria para ferrets. À noite, ainda cheios de energia, o trio é liberado e brinca livremente no quintal do sobrado da família, ao lado da gata Garfilda, e das cadelas Nikita, e Kika. "Todos se dão bem. Nunca tivemos problemas", conta a advogada Cláudia Laudisio, irmã de Marcelo.

Os ferrets têm um comportamento peculiar. "Em geral, eles são agitados. Gostam muito de brincar, saltar e explorar o ambiente. Adoram receber colo, mas, ao mesmo tempo, são independentes", explica André Grespan, proprietário da clínica Wild Vet, especializada em animais exóticos. "São uma mistura de cão e gato."

A curiosidade é uma característica marcante do ferret, e pode ser perigosa. "Eles adoram se enfiar em buracos, por isso todo o cuidado é pouco com banheiros e áreas de serviço, gavetas e até janelas", diz André.

Fácil de lidar, o ferret é uma ótima opção para quem vive em apartamento -ocupa pouco espaço, exige manutenção simples e aprende rápido a fazer suas necessidades nos locais indicados. "No dia a dia é somente água, comida e limpeza da casinha. Só não aconselho deixá-los soltos pela casa quando estiverem sozinhos", alerta André.

Uma dificuldade para os criadores é a falta de veterinários especializados. Assim como outros pets, eles devem ser vacinados contra cinomose e raiva, mas com vacinas próprias. Deve-se também evitar o contato do ferret com pessoas gripadas, pois ele é suscetível a gripe humana.

Pet importado

O ferret (Mustela putorios) é popularmente conhecido como furão no Brasil. Apesar dos dois nomes serem usados como sinônimos, eles representam bichos diferentes. O ferret é um animal de estimação exótico importado dos EUA, já o furão (Galictis cuja) é brasileiro. Não se tem notícia da criação doméstica do furão no Brasil, mas ela é controlada pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis).


Segundo as regras do órgão, os ferrets precisam ser castrados ainda nos EUA, e só podem ser comercializados no Brasil por locais licenciados. Além disso, eles devem ter retiradas as glândulas de odor. "Eles são uma espécie de gambazinho, por isso é feita a extração", diz André.

Apesar de pouco comum no Brasil, a domesticação dos ferrets é antiga. Segundo historiadores, o animal é originário do Egito, onde era usado para caçar pequenos roedores há mais de 2.000 anos. A habilidade de caçador também foi o que os levou para os EUA, por serem usados para eliminar ratos nos navios.

Por lá, é comum ter um ferret de estimação. Segundo estimativas, é o pet de cerca de 9 milhões de lares americanos. Tornou-se o terceiro animal mais vendido em pet shops nos EUA, perdendo apenas para cães e gatos.

No Brasil, os ferrets começaram a chegar no final dos anos 1990, mas ainda são pouco disseminados. "Há cinco anos, houve um aumento nas vendas, mas a maioria das pessoas nunca viu um ferret na vida", afirma André.

Devagar, eles vão ganhando terreno. A importadora Propet não divulga o número de animais que traz para o país, mas informa que são algumas centenas por ano. Na clínica Pet Place, há 1.500 desses "clientes" cadastrados. "Quem tem um sempre acaba comprando outros", afirma o veterinário Renato Miracca, 44.

Por serem agitados e demandarem atenção, proprietários experientes aconselham a criá-los em duplas. "Um ferret dá o mesmo trabalho que dois, e dois dão menos trabalho que um cão ou um gato", resume a fisioterapeuta Elisa Shigeoka, que tem no currículo cinco bichinhos.

Ela aplaude a popularização, mas se ressente de uma coisa. "Eles morrem rápido." O ferret frequentemente é acometido de tumores na velhice. Vive entre seis e dez anos. Metade do tempo médio de vida de gatos e cães.

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