sexta-feira, 19 de junho de 2009

Nutrição & Doença Renal em Aves

Recentemente criadores, proprietários, veterinários e outros começaram a manifestar preocupação em relação às rações processadas (peletizada e extrusada) para aves, correlacionando este tipo de dieta com doenças renais, principalmente com a ocorrência de gota úrica nestes animais, especialmente em calopsitas. (leia o texto sobre ácido úrico e aves)

A falta de informação substitui o bom senso, e algumas pessoas estão deixando de oferecer ração e voltando a utilizar sementes como base da alimentação, podendo causar deficiências nutricionais e desequilíbrio energético na nutrição das aves em questão.

Vários outros fatores também levam uma ave a desenvolver problemas renais. Infecções bacterianas, fúngicas, virais, toxinas, problemas congênitos e / ou hereditários. Nota-se em especial que certas mutações de calopsitas têm maior predisposição a desenvolver a gota úrica (uma manifestação clinica de problema renal). É possível que haja defeitos de metabolismo ou função renal sendo perpetuados em algumas linhagens.

Mas então porque este problema é mais prevalente nas aves alimentadas com rações processadas do que nas aves alimentadas com dietas de sementes?

Em geral, os problemas renais em aves podem passar despercebidos, sem sinais clínicos, culminando em morte súbita, principalmente quando a dieta é pobre em proteínas e minerais, como é o caso das misturas de sementes em geral, pobre em proteínas e minerais (ponto chave de deficiência).

Aves que consomem uma dieta processada têm maior probabilidade de mostrar sinais clínicos de doença renal quando comparadas com aves alimentadas com misturas de sementes. Veja que, a dieta processada não causa a doença renal, mas a doença renal pode tornar-se óbvia com a mesma.

É importante entender que, doenças renais sem sinais clínicos caminham de maneira progressiva, até que, quando se manifestam é tarde demais para qualquer solução, culminando no óbito do animal.

Neste caso, a vantagem da dieta processada, é que, ao demonstrar sinais clínicos de forma “prematura”, possibilita o diagnóstico e a adoção do tratamento no início da doença, o que favorece a sobrevida da ave.

Outro equívoco é sobre a quantidade de proteínas, que sabidamente é maior nas rações processadas. Não existem estudos, até o momento, que comprovem a correlação de alta proteína com problemas renais em psitacídeos. Estudos conduzidos por Tom Roudybush da UC Davis demonstraram que um grupo de calopsitas alimentadas com 35% de proteína não apresentou qualquer dano renal.

A quantidade de proteína nas rações nacionais e importadas para psitacídeos não passa de 25% (mesmo em rações para filhotes ou reprodução), sendo contra qualquer lógica ou bom senso acreditar que a quantidade de proteína exigida para o crescimento / reprodução utilizada chegue ao ponto de ser prejudicial).

Todas as informações disponíveis sobre as espécies de animais, incluindo o homem, sugerem que existe uma ampla margem de segurança entre a quantidade de proteína na dieta em relação à função renal. O receio sobre a quantidade de proteína provavelmente decorre do fato de que os rins têm dificuldade para processar os resíduos metabólicos das proteínas.

Porém, aqui sim se encaixa um dado importante, a qualidade da proteína. Há vários tipos de proteína, que podem ser utilizadas quando se fabrica uma ração, desde obtida de farinhada de carne até de penas. A composição dos aminoácidos e das purinas que formam a proteína é um fator muito importante. Quando são de baixa qualidade, formam mais resíduos metabólicos prejudiciais aos rins.

É um dos motivos pelo qual rações com a mesma porcentagem de proteínas possuem preço e qualidade diferenciados. Todas as rações podem ter a mesma porcentagem de proteína na sua formulação, mas a qualidade é o mais importante. Proteína de boa qualidade custa caro.

Cabe ressaltar outros nutrientes importantes nos processos renais, que têm menores margens de segurança e devem ser utilizados na dieta com mais cuidado: são eles o cálcio, a vitamina A e a vitamina D3.

Vários trabalhos científicos mostram que aves alimentadas com excesso de cálcio, fora da época de postura ou crescimento, podem desenvolver doenças renais. É conhecido que níveis de cálcio superiores a 1,2% pode causar doença renal em frangos fora da postura.

Assim sendo, as rações processadas para aves reprodutoras ou em fase de crescimento devem ter níveis de cálcio entre 0,9% e 1,1%, e as pedras de cálcio e minerais, osso de siba, farinha de casca de ovos e areias (grit) não devem ser oferecidos para além da dieta.

As calopsitas em especial, devido a sua origem (Austrália), estão acostumadas com uma dieta pobre em cálcio, que deve ficar próxima de 0,4% para evitar qualquer problema renal.

As vitaminas A e D3 são extremamente tóxicas para outras aves, e uma superdosagem tende a ser fatal. Nenhuma investigação foi ainda publicada sobre psitacídeos para determinar suas necessidades reais ou nível de toxicidade.

Devemos saber que a maioria das dietas desenvolvidas para psitacídeos são geralmente baseadas nas exigências nutricionais de aves de corte. E os níveis atuais das rações processadas estão dentro do que é considerado seguro para todas as espécies estudadas até o momento.

Não alimente suas aves om uma dieta deficiente, a fim de proteger as que podem ter um mau funcionamento renal subjacente. Além de não impedir que o problema ocorra, em geral isso acaba debilitando uma ave que tenha outras deficiências.

Nutriente Mistura de Sementes *
Gordura 17,7%
Cálcio 00,09%
Fósforo 0,51%
Cálcio/ Fósforo 0.18/1
Vitamina D3 0,0 UTI / kg
Vitamina A 0,0 UI / kg
Riboflavina 2 mg/kg
Niacina 33 mg/kg

* Partes iguais, girassol, cártamo, milheto, aveia e grumos. Lembre-se que, se uma ave come mais girassol, a porcentagem de gordura pode se elevar a 30% ou mais.

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