quarta-feira, 1 de julho de 2009

O ÁCIDO ÚRICO E DOENÇAS RENAIS EM AVES

O conhecimento do metabolismo do ácido úrico é necessário para entender como ocorrem as diversas doenças a ele relacionadas e para possibilitar o tratamento adequado. Sabemos que as alterações dos níveis séricos (relativo ao sangue), do ácido úrico, para cima ou para baixo, causam complicações como a gota,insuficiência renal aguda e/ou crônica, cálculo renal, etc.

Ele é um ácido fraco, hidrossolúvel e sua forma ionizada, o urato monossódico, é encontrada no plasma do sangue, no líquido extra-celular e na sinóvia. A sinóvia é o líquido viscoso, que preenche as articulações, derivado do metabolismo das proteínas.

Quanto maior a quantidade de purinas na proteína do alimento ou do próprio metabolismo da ave, maior a produção de ácido úrico. Os rins são os responsáveis por eliminá-lo de forma eficiente, impedindo o seu acúmulo.

Os alimentos contêm diversas substâncias constituídas por moléculas como os açúcares (hidrato de carbono), gorduras (ácidos graxos) e proteínas (aminoácidos).

Por sua vez, os aminoácidos se decompõem em ácidos nucléicos, nucleotídeos e bases purínicas.

As purinas, presentes nas proteínas, sofrem um processo de degradação em hipoxantina e esta se transforma em xantina. Por sua vez, a xantina, por ação irreversível de uma enzima denominada de xantina oxidase, se transforma em ácido úrico e este em urato de sódio.

A maior parte dos uratos são produzidos no fígado, provenientes do desdobramento das proteínas (provenientes da alimentação e do metabolismo interno da ave). Vale ressaltar que a velocidade e a quantidade de ácido úrico formado a partir das purinas dependem da xantina oxidase: quanto maior for a quantidade desta enzima, maior a formação de ácido úrico. Em humanos há doenças congênitas, que alteram a produção da enzima e podem influir na quantidade de ácido úrico formado.

Existem muitas suspeitas sobre a possibilidade dessa ser uma doença genética e hereditária em aves, portanto é aconselhável evitar reproduzir aves com problemas renais.

As aves possuem a uricase, uma outra enzima que consegue oxidar o urato em alantoína, uma substância 80 a 100 vezes mais solúvel que o urato e que é facilmente excretada pelo rim. Isto permite que esses animais tenham níveis muito baixos de ácido úrico.

Os níveis normais de ácido úrico nas aves são muito próximos do limite de solubilidade, e pequenos aumentos na sua concentração causam precipitação deste nos tecidos.

Sabe-se que o ácido úrico é mais solúvel em temperaturas acima de 37ºC, portanto em casos de gota, fornecer aquecimento para a ave ajuda na recuperação.

Nas articulações dos pés das aves, a temperatura é mais baixa, o que favorece a deposição de cristais nestes locais. O ácido úrico precipita na forma de urato de sódio, causando muita dor e dificuldade de locomoção nos animais.

Resumindo: O ácido úrico fica dissolvido no sangue até níveis próximos do limite, quanto mais alta for sua concentração, maior é a chance de cristalização e deposição nos tecidos, com grande probabilidade de depósito nas articulações que são as regiões de menor temperatura e, conforme a quantidade no sangue se eleva, qualquer tecido pode ser acometido.

Nas aves, mesmo que por um curto período, a elevação do ácido úrico no sangue pode levar à formação dos depósitos (gota úrica). Há relatos de que aves podem desenvolver a gota úrica após ficarem um período de tempo sem beber água.

Quando ocorre deposição de cristais de urato nas articulações, estes provocam uma intensa reação inflamatória, causando muita dor, e a ave passa a apresentar dificuldade em empoleirar e passa a ficar no chão da gaiola, evitando se movimentar.

Quando a gota se manifesta em aves pode ser fatal. Porém, com o monitoramento da quantidade do acido úrico no sangue, é possível evitar a precipitação dos cristais de urato e a ave passa a ter uma chance de sobrevida muito maior.

Este é um dos motivos pelo qual as aves devem realizar o check-up anual.

A gota úrica crônica não tratada leva à formação de bolsas (tofos) com cristais de urato nas articulações, levando às deformidades. Esta fase em humanos é chamada de gota tofácea e também ocorre em aves em estágios avançados.

O excesso de ácido úrico também pode levar à formação de cálculos renais, deposição de urato e formação de “tofos” nos rins, causando insuficiência renal crônica.

Como já explicado, a gota é causada por níveis elevados de ácido úrico sanguíneo. Porém, nem toda ave que tem ácido úrico alto, chamado de hiperuricemia, desenvolve gota. Algumas aves podem mostrar níveis de ácido úrico elevados e nunca apresentam gota. No entanto, o acido úrico
elevado em conjunto com outras alterações na bioquímica sangüínea são fortes indicadores de doença renal. Esta, quando não tratada, pode evoluir para a gota ou óbito do animal sem nenhum sinal clinico.

Os fatores que podem elevar o acido úrico no sangue são:
  • Obesidade
  • Desidratação
  • Micotoxinas (Sementes mofadas e baixa qualidade**)
  • Hipoglicemia
  • Cálculos renais
  • Diabetes (hiperglicemia)
  • Consumo de vitamina C
  • Consumo excessivo de cálcio, sódio e potássio
  • Alimento com desbalanço de cálcio/potássio
  • Carência de vitamina A
  • Excesso de vitamina A e/ou D3
  • Postura crônica de ovos
  • Ovo retido (Compressão física sobre os rins)
  • Neoplasias
  • Intoxicação por metal pesado (Chumbo/Zinco)
  • Toxinas bacterianas (Clostridium perfringens)
  • Disenteria por períodos prolongados
  • Longos períodos de jejum
  • Jejum hídrico
  • Hemorragias / Traumas
  • Clamidiose
  • Infecções bacterianas / fúngicas
  • Doenças virais
  • Protozoários (Coccídeas)
  • Grande ingestão de alimentos ricos em purina (rações, farinhas*)
  • Doenças congênitas e hereditárias
  • Exercícios extenuantes (Pânico noturno)
  • Antibióticos (doxiciclina, aminoglicosídeos e derivados de sulfas)
  • Uso uso crônico de drogas que inibem a excreção de ácido úrico, antiinflamatórios e diuréticos.
* Existem rações e farinhadas que possuem camarões e artêmias em sua composição (Alimentos com alto teor de purinas)

** Não se pode garantir que sementes "sopradas" não possuem micotoxinas. Ao notar presença de bolores nos alimentos, jogue-os fora imediatamente.

O diagnóstico de problemas renais em aves é difícil de ser realizado; em geral é descoberto somente em casos avançados, ou em necropsia. Porém, alterações de comportamento, dificuldade de apoio, diarréias e consumo exagerado de água, associados a níveis elevados de ácido úrico são sugestivos de um problema renal. A melhor maneira de prevení-lo é com a realização de check-ups anuais para um melhor acompanhamento da função renal.

Entre as muitas funções do rim, salientam-se as seguintes:
  1. Responsável pela eliminação dos resíduos tóxicos produzidos pelo organismo (ácido úrico).
  2. Controla o volume dos líquidos, controlando a quantidade de água no corpo.
  3. Controle sobre os sais minerais, eliminando os seus excessos ou poupando-os nas situações de carência (Cálcio, potássio, sódio, etc).
  4. Influência sobre a pressão arterial e venosa a partir do controle do volume (líquidos) e dos sais.
  5. O rim produz e secreta hormônios: a eritropoetina, a vitamina D e a renina.
A eritropoetina interfere na produção dos glóbulos vermelhos e a sua falta pode levar a uma anemia de difícil tratamento. A vitamina D, calciferol, controla a absorção intestinal de cálcio e a renina, com a aldosterona, controla o volume dos líquidos e a pressão arterial

Em geral, os problemas renais não têm cura, mas podem ser muito bem controlados quando descobertos no início.

Durante a crise de gota o tratamento é feito com antiinflamatórios e, em alguns casos, com colchicina (muito tóxica).

O tratamento é focado na a diminuição do ácido úrico no sangue, e a droga mais usada com este objetivo é o Alopurinol. Podem ser necessários alguns meses de tratamento até se atingir valores desejáveis.

É importante ressaltar os riscos sobre o uso do Alopurinol durante as crises, que pode levar à piora do quadro. Existem relatos que o próprio Alopurinol leva à ocorrência de gota em algumas aves (gavião de cauda vermelha).

Com uma dieta correta e redução dos níveis de ácido úrico, a ave consegue viver livre das crises e impede progressão das lesões renais e das articulações. Consulte sempre o seu médico veterinário ao menor sinal de doença e realize periodicamente os check-ups em sua ave.

DICAS SOBRE ALIMENTAÇÃO:

Ainda não há um consenso sobre reduzir ou não a quantidade de proteína ingerida. Uma vez que o baixo consumo de proteína na dieta pode levar a um maior metabolismo e catabolismo das proteínas endógenas (Internas) que também podem gerar um aumento na produção de purinas.

Sendo então recomendável a prudencia em relação ao consumo de proteínas,. Acaso o animal se alimente somente com rações extrusadas recomendamos cortar o fornecimento de proteína extra como ovos e farinhadas.
Alimentos com moderada quantidade de purinas:

* Leguminosas: feijão, grão-de-bico, ervilha, lentilha, aspargos, cogumelos, couve-flor, espinafre

Alimentos com baixo ou nenhum teor de purina:

* Batata, arroz branco, milho, mandioca, sagu, vegetais (couve, repolho, e agrião), frutos secos e frutas em natura

André Grespan
Medico Veterinário
CRMV-SP 12383
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