quarta-feira, 1 de julho de 2009

Reportagem: Aves soltas pela casa

Soltar o passarinho dentro de casa pode ser uma experiência saudável e festiva para o animal e para o dono

Aquele verso que o Wando cantava há um par de décadas, "passarinho na gaiola, feito gente na prisão", faz todo o sentido para muita gente. Principalmente para os adeptos da "liberdade vigiada". São donos de aves que decidiram criar os pássaros soltos em casa, mesmo vivendo em área urbana. É uma prática recomendada para aliviar a consciência e para melhorar a qualidade de vida dos pets. "O dono tem de incentivar a animal a viver solto. É uma ótima companhia", defende a administradora Denise Haddad, que mantém uma ave adestrada em casa.

A agapórnis Natália, 3, vive solta pelo sobrado em Moema (SP). A gaiola fica aberta durante o dia e só se fecha à noite. "É questão de a ave se habituar a viver assim". Antes de cultivar o hábito, é preciso criar as condições para soltar os animais. As asas de Natália são sempre aparadas para que o vôo fique limitado e impeça uma fuga.

É recomendável aparar pela primeira vez no veterinário. Entre os cuidados necessários para que o pássaro possa ter uma vida saudável fora da gaiola, os principais, segundo a veterinária Cláudia Rossi, são: atenção na hora de aparar as asas, pois as penas com menos de 21 dias podem estar imaturas para o corte e apresentar sangramento; atenção para o animal não ingerir substâncias nocivas; avaliar o local onde a ave vai ser solta, para que ela não fuja e nem bata em móveis durante o vôo. Cláudia relata o caso de uma ave que pousou em uma frigideira e queimou as patinhas.Tomadas as precauções, a experiência costuma ser positiva.

O veterinário André Grespan, defende que a vida fora das grades, em algum momento do dia, pode ser saudável para os animais. Segundo ele, aves que passam pelo menos parte do dia fora da gaiola têm a oportunidade de exercitar a musculatura peitoral e o sistema respiratório. Bater asas é um exercício que evita doenças relacionadas à vida sedentária das aves, problemas cardiovasculares e obesidade. "Entre os pássaros dos meus clientes, os mais saudáveis são aqueles que, de vez em quando, ficam soltos.

O ideal é tirar o animal da gaiola pelo menos meia hora por dia", avalia.Um exemplo extremo é o da professora Cynthia de Melo Oliveira, que mantém 11 aves soltas dentro de um dos quatro quartos do seu apartamento em Pinheiros. No aposento transformado em viveiro, os pássaros dividem quatro gaiolas, que ficam abertas. São usadas como o lugar da refeição.

Completam o "mobiliário" poleiros montados entre as quatro paredes e uma goiabeira plantada num vaso. Na porta e na janela foram instaladas telas para evitar fugas, e, durante parte do dia, as aves têm direito a uma volta pelos outros cômodos.A professora criou uma rotina especial para lidar com a liberdade dos pets. "Pela manhã, quando cuido deles, fecho as janelas de casa, e eles ficam soltos. Perto do almoço, coloco eles de volta no quarto e vou fazer minhas coisas. Depois volto a abrir a porta", relata Cynthia, que se acostumou com o vaivém das aves pela casa.Entre as espécies criadas por ela há calopsitas, lóris e três jandaias.

Pelo bom comportamento, o trio ganhou o "prêmio" de dormir na cama da dona. "Eu fico de um lado, e elas de outro, às vezes dentro da coberta", relata. Os vizinhos até hoje não reclamaram, apesar do barulho das aves em momentos de euforia. "O vizinho de baixo tem uma banda, toca violão e guitarra", diverte-se ela. "E eu faço a política da boa vizinhança. Convido os vizinhos que encontro no elevador para conhecer meu viveiro."

Para o veterinário André Grespan, tanta liberdade resulta em alto-astral: "É notável que elas levam uma vida mais feliz".

Fonte: UOL Bichos - 21 de Fevereiro de 2008

2 comentários:

Marcos Vinicius disse...

Mas aparar asas de uma ave para não cria-las engaioladas, não seria o mesmo que cortas as pernas de um ex-presidiário e solta-lo? Dessa forma só mudou o tipo de prisão e o egoismo do criador continua.

Wildvet Clinica Veterinaria disse...

Ola Marcos
Obrigado por visitar e comentar em nosso texto. Só para avisar, este blog parou de ser atualizado neste site e todo o seu conteúdo assim como novas publicações foram integrados em nosso portal www.wildvet.com.br, nos visite por lá também...

Veja, a questão de corte de asas envolve muitos aspectos, como espaço, responsabilidade e o tipo de ave, cultura... Tantos aspectos que fica difícil discutir todos...

Vou tentar focar alguns pontos para responder a sua colocação.

Vamos pensar que a pessoa não quer cortar a asa de sua ave e ela acaba fugindo. Invariavelmente essa ave fujona tem três destinos: um novo dono, morte ou adaptação.

Digo um novo dono porque essas aves ficam tão dependentes de humanos que quando começarem a passar frio e fome vão procurar o primeiro por perto “buscando” ajuda e proteção. Atendemos vários animais encontrados nesta situação.

Morte, porque estes animais desconhecem os perigos da “ vida livre”, não sabem reconhecer predadores, alimentos tóxicos ou onde procurar abrigo e alimentos. Porque também não tem forca física e nem fôlego para voar longas distancias. Lembre que eles podem estar a muitas gerações em cativeiro e com isso perderam suas “habilidades”. Por exemplo uma calopsita branca na copa de uma arvore é um prato cheio e facil de ver para qualquer predador (gato, ratos, gavião), certamente ela não conseguir se camuflar entre as folhas.

Adaptação, embora seja algo lindo de se observar, o fato de uma ave de cativeiro se adaptar em vida livre é muito perigoso, primeiro porque ela pode carregar doenças do cativeiro para outros animais da vida livre (vírus, bactérias e parasitas) e segundo ela pode não pertencer a região (exóticos) o que gera um desequilíbrio ambiental sem precedentes, podendo ate virar uma praga (assim como os pombos europeus) .

Soltar estes animais é muito complicado e necessita de tantos cuidados que não pode ser feito por pessoas sem orientação e a certeza de que esta fazendo o certo.

Deixar a ave solta sem nenhuma proteção de tela para dar mais liberdade ao animal é irresponsabilidade com ela e com o meio ambiente. Portanto se a pessoa não quer cortar a asa, ótimo, mas tem que ser responsável e garantir que esse animal não fuja e isso requer cuidado e telas por toda a casa. Caso isso não seja possível, o corte é recomendável, permitindo uma liberdade maior do que ficar preso 100% do tempo dentro da gaiola e dentro de casa.

Realmente é um assunto polêmico e impossível de ser discutido no sentido mais amplo em um blog, mas mesmo assim ficamos felizes com sua participação e espero ter conseguido lhe mostrar um outro ponto de vista.

Um grande abraço