sexta-feira, 16 de abril de 2010

Igualdade entre espécies

Libertação animal
Peter Singer
Editora Lugano, Porto Alegre.
tel.: (51) 3311-2502. / 357 págs.

A polêmica levantada toda vez que uma personalidade resolve usar ou divulgar roupas feitas com peles de animais e a busca por alternativas ao uso de ratos, cães, porcos e outros bichos em experimentos feitos por universidades, laboratórios e indústrias refletem a crescente preocupação, dentro e fora da comunidade científica, em relação ao bem-estar dos animais. Um dos principais impulsos para essa conscientização foi a publicação do livro "Libertação Animal", do filósofo australiano Peter Singer, em 1975. Considerada a bíblia sobre o tema, a obra, que já foi traduzida para o chinês, coreano, japonês e para a maioria dos idiomas europeus, acaba de ser publicada no Brasil. Trata-se de uma edição revisada, de 1990, que inclui descrições das principais campanhas e conquistas do movimento de liberação animal até aquele ano.

Nela, Singer defende a igualdade entre "animais humanos e não-humanos", com base na capacidade que ambos têm de sofrer, e deixa claro que não se trata de um livro sobre animais de estimação e muito menos sobre afagar bichos fofos, como gatos e cachorros. "Esse livro é uma tentativa de refletir atenta, cuidadosa e consistentemente sobre a questão de como devemos tratar os animais não-humanos. A reflexão vai revelando os preconceitos ocultos por nossas atuais atitudes e comportamentos".

Singer batizou de "especismo" esse preconceito a favor dos interesses da própria espécie e contra os de outras. A definição é amplamente exemplificada nos capítulos sobre experiências com macacos, ratos, coelhos e cachorros em indústrias de cosméticos e medicamentos, pesquisas médicas e sobre criação de animais para abate.

"Se os experimentadores não estiverem preparados para usar um bebê humano, o fato de estarem prontos para usar animais não-humanos revela uma forma injustificável de discriminação com base na espécie "

Ainda que reforce que seu objetivo não é apelar para a emoção do leitor, a intenção transparece na escolha dos experimentos descritos no capítulo sobre animais de laboratório. A maioria na área de psicologia, envolvendo choques elétricos, privação de comida, sono entre outros maus-tratos, cujos resultados não oferecem grandes perspectivas na produção de conhecimentos vitais à humanidade, como submeter ratos a diferentes tipos de choque para comparar os níveis de medo gerados por cada um. Singer também descreve diversos tipos de envenenamento de animais, sobretudo coelhos, os mais utilizados para testar a toxicidade de produtos de higiene pessoal e cosmética, mas não se pronuncia sobre o fato de tratamentos para problemas como Alzheimer, câncer e ataques cardíacos serem geralmente testados em ratos e camundongos primeiro.

A apresentação das condições precárias de vida de animais criados para abate, como galinhas, porcos e bois, confinados em espaços minúsculos, com privação de comida e de higiene, preparam terreno para o capítulo seguinte, em que o objetivo é converter os leitores ao vegetarianismo, segundo o autor, a solução para o problema. Alguns dos argumentos utilizados em "Libertação Animal" podem ser vistos em filmes como "Babe, O Porquinho Atrapalhado" (1995) e "Fuga das Galinhas" (2000).

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